quarta-feira, 28 de maio de 2008

Novas Postagens e Novo Perfil.



Vou mudar um pouco a direção das minhas palavras neste blog.
Novo rumo. Novas diretrizes. Novo estatuto.
Agora serão palavras minhas, vindas da minha cabeça, extraídas do meu coração... tomando forma nas pontas dos meus dedos.
Palavras próprias.
Minhas impressões.
Meus delírios.
Minha motivação.
Minhas experiências.
Minhas alegrias.
Meus desapontamentos.
Meus erros!
Meus encantamentos!
Meu dia-dia!!!
Tudo isso embalado e mesclado com músicas, poesias dos mestres, escritos de gente boa e bacana, e mais muito mais!!!

Ousadia, minha bandeira!
Alçar vôo, meu destino!
Fantasia, minha marca!

Aguardem!!!
Bjusss,
MárciaFreitas


sábado, 17 de maio de 2008

O que faz doer nem sempre tem causa aparente.

Pe. Fábio de Melo
Dor é um acontecimento sem datas. Prolonga-se no tempo e contraria todas as regras dos argumentos . Eu não sei o que dói. Eu não sei quando começou doer. O que sei é que a dor é a identificação mais profunda da condição humana. Dela é que nasce a expressão do cuidado. A dor sinaliza que algo precisa ser curado, que algo carece de presença, olhar atento e esforço redobrado. Dores são diversas. São físicas, emocionais, psíquicas. Dores de toda hora, de vez em quando, ao cair da tarde, com o chegar das primeiras estrelas ou com os primeiros raios de sol. Dores não conhecem o tempo. Chegam quando querem. Elas se acomodam nos cantos da alma, nos centros das carnes e ficam. Os que já sofreram muitas dores aprenderam a lidar com elas...
Elas amadurecem.
Meu amigo padre Leo tem experimentado muitas delas. Eu o vi travando uma luta ferrenha com essas visitantes estranhas. Os olhos brilhavam um pouco mais. O sorriso que lhe é tão próprio não se desfez em nenhum momento, mas apenas cedeu lugar para uma forma mais sublime de sorrir... Era a dor chegando com sua lousa e giz, pronta pra ensinar... Ele tem sabido aprender. Tenho orgulho do meu amigo e sei, que mais cedo ou mais tarde, eu receberei as lições desse aprendizado. Tenho sofrido com ele, mas de longe. Não posso ficar ao lado. Eu experimento a dor à distância. Experimento a dor que tem sido minha, e que de alguma forma é a dele também. Dores criam esquinas inesperadas.

Hoje escrevi um email para um grande amigo. Ao responder-me o email, o meu texto veio junto da resposta. Li novamente o que eu havia escrito, e de repente uma pequena alegria me atingiu...

Transcrevo-o.

Meu amigo,

É quase uma tristeza. É um jeito de querer o que não tem nome, é uma posse antecipada do que ainda não é real. Eu não sei. E não saber faz com que a dor se misture numa outra porção de sentimento, tornando o momento ainda mais instigante.
Acho que sofro por não saber. Acho que sofro por saber o que não quero saber. Estranho, não é mesmo? Querer é tão doido! Querer e não saber o que se quer. O medo, este companheiro de toda hora aguça o meu contentamento, suturado às minhas alegrias como se fosse adendo na constituição do todo. Hoje eu acho que queria um colo de mãe. Talvez seja isso. Chorar mansinho pelas mesmas causas que as crianças. Chorar sem culpa, sem explicações. Voltar a ser menino e pedir que os outros decidam por mim o que me fará bem. Eu não quero muito nesse dia, meu amigo. Queria apenas um amanhecer sem os ruídos da maturidade. Um colo de mulher, um cheiro de infância, um quadro na parede e uma fala serena dizendo-me: o almoço já está quase pronto, meu filho!
Só isso.

Neste dia em que não sabemos dar nome ao que nos faz sofrer, soframos abraçados aos que nos amam de verdade.

Pergunte e não responderemos

Nem sempre a resposta está pronta. Há uma beleza na dúvida que vale à pena de ser apreciada. Forjar a resposta antes do tempo é a mesma coisa que colher frutos verdes...

Demora na dúvida... e descubra a sabedoria que insiste em se esconder na ausência de palavras.

A outra face da dúvida...

Responder perguntas é fácil. Difícil é ensinar a conviver com as dúvidas, forjar a vida a partir das incertezas, das inconclusões e reticências, permitindo que o mistério sobreviva às constantes invasões da racionalidade, no horizonte de tantas realidades que não são desdobráveis, possíveis de serem dissecadas.

Viver pra responder cansa. Há muito ando lutando para abandonar esse espírito de onipotência que tomou conta de nós. Sentimo-nos na obrigação de dar respostas para tudo. Não sabemos dizer que não sabemos, mas insistimos em falar de coisas que ainda nem acreditamos, só para não termos que enfrentar o desconcerto do silêncio. Falamos porque não suportamos a ausência de respostas.

Talvez seja por isso que tantas pessoas têm buscado as religiões de respostas simples. Por que sofremos? Por que pessoas boas sofrem coisas ruins? Perguntas que são constantes na vida humana, sobretudo no momento em que a tragédia nos abate, o sofrimento nos visita. Torna-se muito simples justificar o sofrimento como forma de pagamento por vidas passadas, processos de purificação que expiam erros cometidos por outros. Compreensões absolutamente simplistas, redutoras, e portanto, resposta fácil.

A dor gera perguntas. A alegria, nem sempre. A religião é um recurso humano que nos ajuda a conviver com as questões mais fundamentais que são próprias da nossa condição. Ela responde, mas nem sempre essa resposta pode ser formulada através de palavras. Isto porque a religião é acontecimento da vida inteira, é processual, se dá aos poucos.

Jesus quis ensinar aos seus discípulos essa sabedoria. Não foram poucas as vezes em que eles lhes pediam explicações e respostas fáceis. Jesus nunca caiu nessa armadilha. Ao invés de entregar-lhes respostas prontas, Ele lhes ensinava a conviver com a dúvida criativa.

Também sua mãe aprendeu isso com ele. Guardava tudo no seu coração porque sabia que a experiência do distanciamento é uma excelente forma de conhecimento.

Há fatos que se dão no agora da vida e que só poderão ser entendidos, depois de passado um determinado tempo...



O fardo da prepotência de saber tudo...



Nem sempre a dúvida do momento possui resposta. Há que se ter uma paciência de saber fazer essa leitura. Conviver com a dúvida é uma forma interessante de construir respostas. Você já deve ter experimentado concretamente na sua vida essa premissa. O sofrimento desta hora gera ensinamentos que só poderão ser recolhidos amanhã.

Nisso consiste a beleza da religião: ajudar a conviver com a dúvida, nutrir a esperança que não nos deixa esmorecer, preparar o coração para os tempos reservados para o silêncio da existência.

Durante muito tempo os padres e religiosos tiveram que carregar o fardo da onipotência. Para tudo eles teriam que ter respostas. Falavam até de coisas que não acreditavam. Correram o risco das receitas mágicas, das frases prontas e do amor teórico. Essa postura gerou um desgaste histórico na figura do padre. Por falar de tudo, acabou deixando de falar do essencial. Por saber tudo, acabou esquecendo que a proposta de Jesus é também uma forma de não saber, um jeito interessante de descansar no silêncio da simplicidade que não sabe dizer, porque não é adepta da pressa.

Os padres ficaram sofisticados. Têm um discurso hermético que insiste em responder e interpretar todas as perguntas que lhes caem nas mãos. São capazes de chegarem num velório e repetir em alto e bom tom, receitas sobre a morte, que nem eles mesmos conhecem os ingredientes.

Talvez seja por isso que estejamos tão desacreditados em nosso discurso. Pessoas simples andam recebendo mais atenção que clérigos inteligentes.

Pessoas simples são aquelas que se deixam tocar pelas perguntas, e que sabem apreciar o encanto da ausência de palavras. São capazes de deixar a noite deitar seu manto sobre a dúvida que o sol aqueceu. Seguem a fio a sabedoria bíblica que nos ensina, que debaixo do céu, há um tempo para cada coisa.





Quem demora na pergunta já intui uma resposta...



Eu sei que você sofre constantemente os apelos deste mundo de respostas prontas. Talvez até já tenha pensado em trocar sua religião por uma outra que lhe responda melhor seus questionamentos.

Só não esqueça que nem sempre você precisa de respostas. A vida, por vezes só é possível no silêncio do questionamento. A desolação do calvário, o profundo silêncio de Deus, a mãe que acolhe o filho morto nos braços é uma das exortações mais belas que a humanidade já pôde conhecer.

Seria injusto se afirmássemos que só vivemos de silêncios de perguntas. Não, o cristianismo também tem respostas belíssimas para a vida humana. Os padres são portadores de uma boa nova que tem o poder de responder os anseios mais profundos da condição humana. Não só os espíritas possuem respostas convincentes...

Nós também sabemos responder, mas por estarmos fundamentados numa antropologia que não nos permite qualquer forma de reducionismo é que defendemos que nem sempre teremos respostas para todos os problemas do mundo.

Respostas não caem do céu, mas são geradas no processo histórico que o ser humano realiza. Viver é maturar, é amadurecer, é superar horizontes, acolher novas possibilidades e descobrir respostas onde não imaginávamos encontrar.

Conviver com dúvidas requer maturidade, e isso não é aprendizado que se dá da noite para o dia. A dúvida de hoje pode ser a certeza de amanhã.

Pe. Fábio de Melo

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O INACABADO QUE HÁ EM MIM



Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina.
Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo,
O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão.
Eu sou inacabado. Preciso continuar.
Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.
Pe. Fábio de Melo