quarta-feira, 30 de julho de 2008

Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim



Meu coração
Sem direção
Voando só por voar
Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar
E as estrelas
Que hoje eu descobri
No seu olhar
As estrelas vão me guiar

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração

Hoje eu sei
Eu te amei
No vento de um temporal
Mas fui mais
Muito além
Do tempo do vendaval
Nos desejos
Num beijo
Que eu jamais provei igual
E as estrelas dão um sinal

Se eu não te amasse tanto assim
Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim
E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores
Por onde eu vim
Dentro do meu coração...

Ivete Sangalo
Composição: Paulo Sergio Valle / Herbert Vianna
Imagem : Garden - Monet

terça-feira, 29 de julho de 2008

Músicas...

Fico Assim Sem Você


Avião sem asa
Fogueira sem brasa
Sou eu, assim, sem você

Futebol sem bola
Piu-piu sem Frajola
Sou eu, assim, sem você...

Porque é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim

Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
Vão poder falar por mim...

Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
Sou eu, assim, sem você

Circo sem palhaço
Namoro sem amasso
Sou eu, assim, sem você...

Tô louca pra te ver chegar
Tô louca pra te ter nas mãos

Deitar no teu abraço
Retomar o pedaço
Que falta no meu coração...

Eu não existo longe de você
E a solidão, é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo...

Por quê? Por quê?

Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Sou eu, assim, sem você

Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu, assim, sem você...

Porque é que tem que ser assim?
Se o meu desejo não tem fim

Eu te quero a todo instante
Nem mil alto-falantes
Vão poder falar por mim...

Eu não existo longe de você
E a solidão, é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo...


Adriana Calcanhotto
Composição: Abdullah / Cacá Moraes

Vai alta no céu a lua da Primavera


Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.

Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.


Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.


Fernando Pessoa
ROSAS


Você pode me ver
Do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço
Prá te contrariar
De tantas mil maneiras
Que eu posso ser
Estou certa que uma delas
Vai te agradar...

Porque eu sou feita pro amor
Da cabeça aos pés
E não faço outra coisa
Do que me doar
Se causei alguma dor
Não foi por querer
Nunca tive a intenção
De te machucar...

Porque eu gosto é de rosas
E rosas, de rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...

Toda mulher gosta de rosas
E rosas, de rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...

Se teu santo por acaso
Não bater com o meu
Eu retomo o meu caminho
E nada a declarar
Meia culpa cada um
Que vá cuidar do seu
Se for só um arranhão
Eu não vou nem soprar...

Porque eu sou feita pro amor
Da cabeça aos pés
E não faço outra coisa
Do que me doar
Se causei alguma dor
Não foi por querer
Nunca tive a intenção
De te machucar

Porque eu gosto é de rosas
E rosas, de rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...

Toda mulher gosta de rosas
E rosas, de rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...

Porque eu gosto é de rosas
E rosas, de rosas
Acompanhadas de um bilhete
Me deixam nervosa...

Toda mulher gosta de rosas
E rosas, de rosas
Muitas vezes são vermelhas
Mas sempre são rosas...

Você pode me ver
Do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço
Prá te contrariar
De tantas mil maneiras
Que eu posso ser
Estou certa que uma delas
Vai te agradar...


Canta Ana Carolina
Composição Totonho Villeroy

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Beijo Eterno



Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo.
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querido!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para meu amor!

Fora, repouse em paz
Dormida em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presas
-Beija ainda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito o teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!

Suceda a treva a luz!
Vele a noite de crepe a curva do horizonte;
Em véus de opala a madrugada aponte
Nos céus azuis,
E Vênus, como uma flor,
Brilhe, a sorri, do ocaso a porta,
Brilhe a porta do Oriente! A treva e a luz - que importa?
Só nos importa o amor!

Raive o Sol no Verão
Venha o outono! do inverno os frígidos vapores
Toldem o céu! das aves e das flores
Venha a estação!
Que nos importa o esplendor
Da primavera, e o firmamento
Limpo, e o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?
Beijemo-nos amor!

Beijemo-nos! Que o mar
Nossos beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!
E cante o sol! A ave desperte e cante!
Cante o luar,
Cheio de novo fulgor!
Cante a amplidão! Cante a floresta!
E a natureza toda, em delirante festa
cante, cante este amor!

Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!", diz a minha, a soluçar ... Exclama
Todo meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! Morde! Que doce é a dor
Que entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! Morde mais! Que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!

Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo.
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para meu amor!

Olavo Bilac

...mais importante do que VERBALIZAR doutrinas e HUMANIZAR atitudes...


Sábias palavras que extraí do blog coracaodacidade.blogs.sapo.pt/tag/espiritualidade
Aliás visitem este blog, pois é muito bom. Vale a pena!!!

Ah, estas músicas que dizem tanto...

O VENTO
Jota Quest


Voe por todo mar, e volte aqui...
Voe por todo mar, e volte aqui...
Pro meu peito.

Se você foi, vou te esperar
Com pensamento que só fica em você
Aquele dia, um algo mais
Algo que eu não poderia prever.

Você passou perto de mim
Sem que eu pudesse entender
Levou os meus sentidos todos pra você

Mudou a minha vida e mais
Pedi ao vento pra trazer você aqui
Morando nos meus sonhos e na minha memória
Pedi ao vento pra trazer você pra mim

Vento traz você de novo
Vento faz do meu mundo novo
E voe por todo o mar e volte aqui...
E voe por todo mar, e volte aqui...
Pro meu peito.....

Mudou a minha vida e mais
Pedi ao vento pra trazer você aqui
Morando nos meus sonhos e na minha memória
Pedi ao vento pra trazer você pra mim

Vento traz você de novo
Vento faz do meu mundo novo
E voe por todo o mar e volte aqui...
E voe por todo mar, e volte aqui...
Pro meu peito... pro meu peito... pro meu peito...

Tem músicas que dizem muito, que dizem tudo...


OCEANO
Djavan


Assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão
dava pra ver o tempo ruir
cadê você? Que solidão! Esquecera de mim?

Enfim,de tudo o que há na terra não há nada em lugar nenhum
que vá crescer sem você chegar
longe de ti tudo parou
ninguém sabe o que eu sofri

Amar é um deserto e seus tremores
vida que vai na sela destas dores
não sabe voltar
me dá seu calor

Vem me fazer feliz porque eu te amo
você deságua em mim e eu oceano
e esqueço que amar é quase uma dor

Só sei viver se for por você
Imagem: All Posters

domingo, 27 de julho de 2008

FLORBELA ESPANCA...


Amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui…além…
mais este e aquele, o outro e toda a gente..
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente.

Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi pra cantar

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja minha noite uma alvorada,
que me saiba perder…pra me encontrar…


Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

livro: Charneca em Flor


O Nosso Mundo

Eu bebo a Vida, a Vida, a longos tragos
Como um divino vinho de Falerno!
Poisando em ti o meu amor eterno
Como poisam as folhas sobre os lagos…

Os meus sonhos agora são mais vagos…
O teu olhar em mim, hoje, é mais terno…
E a Vida já não é o rubro inferno
Todo fantasmas tristes e pressagos!

A vida, meu Amor, quer vivê-la!
Na mesma taça erguida em tuas mãos,
Bocas unidas hemos de bebê-la!

Que importa o mundo e as ilusões defuntas?…
Que importa o mundo e seus orgulhos vãos?…
O mundo, Amor?… As nossas bocas juntas!…

Livro de Sóror Saudade

Interrogação

Neste tormento inútil, neste empenho
De tornar em silêncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados à garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma da charneca sacrossanta,
Irmã da alma rútila que eu tenho,
Dize para onde eu vou, donde é que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

Visões de mundos novos, de infinitos,
Cadências de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mão é esta que me arrasta?
Nódoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que é que eu tenho sede e fome?

Minha Culpa

Sei lá! Sei lá! Eu Sei lá’ bem
Quem sou? Um fogo-fátuo, uma miragem…
Sou um reflexo… um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém

Como a sorte: hoje aqui, depois alem!
Sei la’ quem sou? Sei la’! Sou a roupagem
De um doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei la’ quem!…

Sou um verme que um dia quis ser astro…
Uma estátua truncada de alabastro..
Uma chaga sangrenta do Senhor…

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de maldades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador…

Livro: Charneca em Flor

Para Que?!

Tudo é vaidade neste mundo vão…
Tudo é tristeza, tudo é pó, é nada!
E mal desponta em nós a madrugada,
Vem logo a noite encher o coração!

Até o amor nos mente, essa canção
Que o nosso peito ri à gargalhada,
Flor que é nascida e logo desfolhada,
Pétalas que se pisam pelo chão!…

Beijos de amor! Pra quê?! … Tristes vaidades!
Sonhos que logo são realidades,
Que nos deixam a alma como morta!

Só neles acredita quem é louca!
Beijos de amor que vão de boca em boca,
Como pobres que vão de porta em porta!…

Livro de Mágoas

Sem Remédio

Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou…
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.

E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!

Sinto os passos da Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!

E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!…

Livro de Mágoas

Ser Poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Livro: Charneca em Flor

Languidez

Tardes da minha terra, doce encanto,
Tardes duma pureza de açucenas,
Tardes de sonho, as tardes de novenas,
Tardes de Portugal, as tardes d’Anto,

Como eu vos quero e amo! Tanto! Tanto!…
Horas benditas, leves como penas,
Horas de fumo e cinza, horas serenas,
Minhas horas de dor em que eu sou santo!

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar…

E a minha boca tem uns beijos mudos…
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar…

Livro de Mágoas

O Nosso Livro

Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito…
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito.
Não esfolhes os lírios com que é feito
Que outros não tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos só nossos mas que lindos sois!

Ah! meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
“Versos só nossos, só de nós os dois!…”

Livro: Charneca em Flor

Blasfémia

Silêncio, meu Amor, não digas nada!
Cai a noite nos longes donde vim…
Toda eu sou alma e amor, sou um jardim,
Um pátio alucinante de Granada!

Dos meus cílios a sombra enluarada,
Quando os teus olhos descem sobre mim,
Traça trémulas hastes de jasmim
Na palidez da face extasiada!

Sou no teu rosto a luz que o alumia,
Sou a expressão das tuas mãos de raça,
E os beijos que me dás já foram meus!

Em ti sou Glória, Altura e Poesia!
E vejo-me — milagre cheio de graça! –
Dentro de ti, em ti igual a Deus!…

Volúpia

No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…

Livro de Mágoas

Versos de Orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu Reino fica para além …
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus !
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém !

O mundo ? O que é o mundo, ó meu Amor ?
__O jardim dos meus versos todo em flor…
A seara dos teus beijos, pão bendito…

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços
__São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.

Livro: Charneca em Flor

Impossível

Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
“Parece Sexta-Feira de Paixão.
Sempre a cismar, cismar de olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe…

O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por estar contente! Pois então?!…”
Quando se sofre, o que se diz é vão…
Meu coração, tudo, calado, ouviste…

Os meus males ninguém mos adivinha…
A minha Dor não fala, anda sozinha…
Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera!…

Os males de Anto toda a gente os sabe!
Os meus …ninguém… A minha Dor não cabe
Em cem milhões de versos que eu fizera!…

Livro de Mágoas

Angústia

Tortura do pensar!Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!

E não se quer pensar!…e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós…
Querer apagar no céu — ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento!…

E não se apaga, não…nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga…
Vem sempre perguntando: “O que te resta?…”

Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!

Livro de Mágoas

Neurastenia

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim Ave-Maria!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza…

O vento desgrenhado chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as asas pela Natureza…

Chuva… tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento… tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!…

Livro de Mágoas

Alma Perdida

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…

Livro de Mágoas

Noite de Saudade

A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura…
E nem sequer a bênção do luar
A quis tornar divinamente pura…

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura…
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Por que és assim tão ’scura, assim tão triste?!
É que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma Saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem…
Talvez de ti, ó Noite!… Ou de ninguém!…
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!!

Livro de Mágoas

Cinzento

Poeiras de crepúsculos cinzentos.
Lindas rendas velhinhas, em pedaços,
Prendem-se aos meus cabelos, aos meus braços,
Como brancos fantasmas, sonolentos…

Monges soturnos deslizando lentos,
Devagarinho, em misteriosos passos…
Perde-se a luz em lânguidos cansaços
Ergue-se a minha cruz dos desalentos!

Poeiras de crepúsculos tristonhos,
Lembram-me o fumo leve dos meus sonhos,
A névoa das saudades que deixaste!

Hora em que teu olhar me deslumbrou…
Hora em que a tua boca me beijou…
Hora em que fumo e névoa te tornaste…

Livro de Sóror Saudade


Anoitecer

A luz desmaia num fulgor d’aurora,
Diz-nos adeus religiosamente…
E eu, que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui… outrora…

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora
Tenho bênçãos d’amor pra toda a gente!
Como eu sou pequenina e tão dolente
No amargo infinito desta hora!

Horas tristes que são o meu rosário…
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Meu áspero e intérmino Calvário!

E a esta hora tudo em mim revive:
Saudades de saudades que não tenho…
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive…

Livro de Sóror Saudade

Inconstância

Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também… nem eu sei quando…

Livro de Sóror Saudade

Os Versos Que te Fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Livro de Sóror Saudade

De Joelhos

“Bendita seja a Mãe que te gerou.”
Bendito o leite que te fez crescer.
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!

Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer…
Bendita seja a Luz, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver…

Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!

E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!

Livro de Mágoas

Saudades

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?…
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?… Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Livro de Sóror Saudade

Frieza

Os teus olhos são frios como espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, Amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quanta vez dirás a soluçar:
“Ah! Quem me dera, Irmã, amar assim!…”

Livro de Sóror Saudade

Tortura

Tirar dentro do peito a emoção,
A lúcida verdade, o sentimento,
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!…

Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento!…

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Livro de Mágoas

A Minha Dor

A minha Dor é um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsões sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.

Os sinos têm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos têm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…

A minha Dor é um convento. Há lírios
Dum roxo macerado de martírios,
Tão belos como nunca os viu alguém!

Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguém ouve… ninguém vê… ninguém…

O Livro das Mágoas

A Noite Desce

Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce… Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!

Assim mãos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!

A noite em sombra e fumo se desfaz…
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!

E a noite vai descendo, sempre calma…
Meu doce Amor tu beijas a minh’alma
Beijando nesta hora a minha boca!

Livro de Sóror Saudade

Desejos Vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…

Panteísmo

Tarde de brasa a arder, sol de verão
Cingindo, voluptuoso, o horizonte…
Sinto-me luz e cor, ritmo e clarão
Dum verso triunfal de Anacreonte!

Vejo-me asa no ar, erva no chão,
Oiço-me gota de água a rir, na fonte,
E a curva altiva e dura do Marão
É o meu corpo transformado em monte!

E de bruços na terra penso e cismo
Que, neste meu ardente panteísmo
Nos meus sentidos postos e absortos

Nas coisas luminosas deste mundo,
A minha alma é o túmulo profundo
Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos!

Charneca em Flor

Minhas Ilusões

Hora sagrada dum entardecer
De Outono, à beira-mar, cor de safira,
Soa no ar uma invisível lira…
O sol é um doente a enlanguescer…

A vaga estende os braços a suster,
Numa dor de revolta cheia de ira,
A doirada cabeça que delira
Num último suspiro, a estremecer!

O sol morreu…e veste luto o mar…
E eu vejo a urna de oiro, a balouçar,
À flor das ondas, num lençol de espuma.

As minhas Ilusões, doce tesoiro,
Também as vi levar em uma urna de oiro,
No mar da Vida, assim…uma por uma…

X

Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o Sol mais criador,
Mais refulgente a Lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;

Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!

E abrir os braços e viver a vida:
- Quanto mais funda e lúgubre a descida,
Mais alta é a ladeira que não cansa!

E, acabada a tarefa…em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!

Charneca em Flor

sábado, 26 de julho de 2008

Entusiasmo


Aqueles que fazem alguma coisa sem que alguém lhes diga para fazer são seres divinos.
Aqueles que fazem depois de alguém lhes ter dito para fazer são seres humanos.
Aqueles que não fazem nada mesmo depois que alguém lhes peça para fazer são seres indignos.
O método para estar no primeiro grupo é ter ânimo e entusiasmo, o que significa, literalmente, fazer com a alma e inspirado por Deus. Torne-se polivalente em suas tarefas, esteja sempre pronto e o mundo lhe abençoará.

Brahma Kumaris

Às vezes

Às vezes, as pessoas que amamos nos magoam e nada podemos fazer, senão continuar a nossa jornada com nosso coração machucado. Às vezes nos falta esperança, mas alguém aparece para nos confortar.
Às vezes o amor nos machuca profundamente e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.

Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar; é nossa razão de existir.

Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto; é a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, a traíram sem qualquer piedade.
Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram, descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez e agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrantado.
Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu. São fatores importantes:

a) a relação com a família;
b) as condições econômicas nas quais se desenvolveu (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter);
c) os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento;
d) seus sonhos, ideais e objetivos.

Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam, esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.
Aproveite ao máximo seus momentos de felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.
Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso do que teria sido no passado.
Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.

Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa certa em seu caminho.
A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna.

A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem, como acontece com muitas pessoas que cruzam nosso caminho.

Luiz Fernando Veríssimo

Mais uma vez preciso postar aqui...

Lua adversa

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua)

No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

QUANDO VIER ME VISITAR...


Traga flores,
Muitas delas...
Porém, não me traga apenas flores:
Não se esqueça de juntar a elas
A beleza do seu sorriso,
A ternura do seu olhar,
A força do seu abraço.
O calor dos seus beijos...

Quando vier me visitar,
Traga flores,
Muitas delas...
Mas não esqueça de tirar-lhes
Os espinhos que machucam,
As folhas envelhecidas,
Os galhos secos,
As dores embutidas...

Quando vier me visitar,
Traga flores,
Muitas delas...
Perfumadas, coloridas, alegres:
Todas parecidas com você!

Quando vier me visitar,
Traga você por inteiro...
As flores?
Nem sei se vai precisar!


Débora Bellentani

VEM COMIGO



Tenho cara de sapeca
Contudo, sou comportada
Eu só quero ser amada
É o sonho de toda a mulher!

Quando na rede descansando
Quase aberto o meu roupão
Cabelos soltos, sentindo o vento
Vem na mente o pensamento

Se estivesses aqui
Por certo me levarias
Nos teus braços, carregada
Eu em ti, toda enroscada
Rosto colado no teu

Rumo ao tapete macio
Ou rumo ao quarto, não sei
Qualquer local seria perfeito
Se pudesse estar com você!

Vem! vem
Que de belos sonhos, nosso amor construo
Aqui ou em qualquer outro mundo

Sou faceira
Sou dengosa
Sou macia
Sou cheirosa
Bem sei que irias gostar!

Sei cantar e sei sorrir
Também sei calar e ouvir
Se acaso você precisar!

Apaixonada por música
Daria par ti, um regalo
Adoro "As Rosas Não Falam"
Sentar-me-ia ao piano
E tocaria pra você!

Vem pra mim
Não tardes
Dentro de mim, muito arde
O desejo de lhe amar!

Vem meu anjo!
Que bela noite teríamos
Entre suspiros de paixão
No enlevo dos seus beijos
Quero entregar meu coração.


Irani A. de Genaro

Viento en la Isla



El viento es un caballo:
óyelo cómo corre
por el mar, por el cielo.

Quiere llevarme: escucha
cómo recorre el mundo
para llevarme lejos.

Escóndeme en tus brazos
por esta noche sola,
mientras la lluvia rompe
contra el mar y la tierra
su boca innumerable.

Escucha como el viento
me llama galopando
para llevarme lejos.

Con tu frente en mi frente,
con tu boca en mi boca,
atados nuestros cuerpos
al amor que nos quema,
deja que el viento pase
sin que pueda llevarme.

Deja que el viento corra
coronado de espuma,
que me llame y me busque
galopando en la sombra,
mientras yo, sumergido
bajo tus grandes ojos,
por esta noche sola
descansaré, amor mío.

Pablo Neruda

Não a conheço


Ainda não a conheço,
no entanto, meu coração a vê.
E minha alma a sente por completo!
Talvez nunca nos encontremos realmente,
mas tenho certeza que
jamais iremos nos separar.

O vento me trás tua voz.
Sinto o calor de teu corpo,
Através dos fugazes raios de sol do amanhecer.
Caminho de mãos dadas contigo,
sobre um arco íris sem fim.
Abraço-te fortemente,
protegendo-a com meu corpo
da suave brisa que agita teu cabelo.

Mergulho no oceano de paz de teus olhos.
Para colher em meus lábios
uma lágrima de ternura,
que transforma-se em pérola,
ao tocar-me o coração.
Anseio pela chegada da noite que,
cúmplice de minha paixão,
transporta-me em sonho
ao aconchego dos teus braços.

Entristece-me o raiar do dia,
quando o sonho termina.
Porém, consola-me a lembrança,
E a esperança do novo sonho,
que alimentará, ainda que brevemente,
a sede avassaladora que consome meu ser.
E somente o néctar de tua boca poderá saciar!

Kamael

ME ENCANTE ...


Me encante da maneira que você quiser, como você souber.

Me encante, para que eu possa me dar.

Me encante nos mínimos detalhes. Saiba me sorrir, aquele sorriso malicioso e gostoso, inocente e carente.

Me encante com suas mãos, gesticule quando for preciso,
me toque, quero correr esse risco.

Me acarinhe se quiser, vou fingir que não entendo,
que nem queria esse momento.

Me encante com seus olhos, me olhe profundo, mas só por um segundo, depois desvie o seu olhar, como se o meu olhar, não tivesse conseguido te encantar.... e então, volte a me fitar, tão profundamente, que eu fique perdida sem saber o que falar...

Me encante com suas palavras, me fale dos seus sonhos, dos seus prazeres, me conte segredos, sem medos ... e depois me diga o quanto eu te encantei.

Me encante com serenidade, mas não se esqueça,
também tem que ser com simplicidade, não pode haver maldade.

Me encante com uma certa calma, não tenha pressa, tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com a primeira namorada,
sem subterfúgios, sem cálculos, sem dúvidas, com certezas.

Me encante na calada da madrugada, na luz do sol ou embaixo da chuva.

Me encante sem dizer nada ou até dizendo tudo, sorrindo ou chorando, triste ou alegre ...mas me encante de verdade, com vontade ... que depois, eu te confesso que me apaixonei
e prometo te encantar todos os dias, do resto das nossas vidas!!!

Silvana Duboc

A Canção da Mulher...



Que o outro saiba quando estou com medo e me tome nos braços sem fazer demasiadas perguntas.

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos se precisar ficar um pouco quieta.

Que, se estou apenas cansada, o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.

Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade, mas talvez por culpa ou acomodação.

Que, se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo de que é culpa dele, ou que não o amo mais.

Que, se estou numa fase menos boa, o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarido, nem dizer: "olha que estou a ter muita paciência contigo".

Que, se me entusiasmo por alguma coisa, o outro não a despreze nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.

Que, se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.

Que o outro - filho, amigo, amante, marido - não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas aceite quando não posso ser nada disso.

Que, finalmente, o outro entenda que embora às vezes me esforce, não sou nem devo ser a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa ... uma mulher!


Lya Luft

Crônica extraída do livro "Pensar é Transgredir"

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Renúncia


Jamais saberás das lágrimas vertidas,
Da desolação amarga em noite triste
Em que emoções vêem-se perdidas,
Quando saudade em doer insiste...


Lembrarás de juras proferidas,
Quando paixão em meu olhar tu viste.
Eram somente palavras fingidas...
Sentirás que meu amor já não existe.

Alegrias que te ofertei esquecidas,
Esperanças no coração apodrecidas
Na desilusão a que foi arrastado.

Levarei pela vida angústia no peito,
Por desejar teu amor e não ter direito,
Morrendo a cada dia por ter-te renunciado!...


Cida Luz

Inconfesso Desejo



Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo


Carlos Drummond de Andrade

E por que haverias de querer...




E por que haverias de
querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas,
deleitosas,
ásperas
Obscenas, porque
era assim que gostávamos.
Mas não menti
gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma
está além, buscando
Aquele Outro. E te repito:
por que haverias
De querer minha
alma na tua cama?
Jubila-te da memória
de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Hilda Hilst

HOMEM PERFEITO


Não interessa a uma mulher um homem que saiba tudo sobre ela, um homem que saiba tudo sobre o amor, um homem que saiba tudo sobre os prazeres proibidos do corpo. Uma mulher não se interessa por um homem que não tenha uma dose de insegurança, um quê de fascínio infantil, uma ponta de orgulho bobo, uma forquilha de medo entre os joelhos.

Uma mulher não se interessa por homem que não teme as perguntas, que resolve os problemas com sarcasmo, que fala convicto e intrépido sobre os mais diversos assuntos; o coração dele congelado para transplante no isopor entre garrafas de cerveja.

Uma mulher não se interessa por homem que pisca ao garçom, que conversa nos ouvidos com os seguranças das boates, que a mostra com malícia e desfaçatez para os outros.

Uma mulher não se interessa por um homem que está se exibindo mais do que sendo transparente. Uma mulher não se interessa por um homem que ela não conta com a mínima chance de modificá-lo e elogiar as transformações.

Uma mulher não se interessa por um homem que se diverte dos próprios comentários antes dela. Uma mulher não se interessa por um homem carregado de estratégias, que encadeia a noite ideal, sem nenhuma falha, sem nenhum vacilo, sem nenhuma turbulência. Ele ensaiou com quantas antes?

Uma mulher se interessa por um homem inseguro, mas sincero, tímido, mas autêntico, que sofre com suas gafes, engatilha desculpas ao usar um palavrão, que pede ajuda para completar a noite.

Uma mulher não se interessa por um homem blindado, que não escuta, que se esconde em um personagem para contar mais um feito aos amigos. Uma mulher não se interessa por um homem que logo vai atacando, logo vai oferecendo o endereço para esticar a conversa.

Uma mulher não se interessa pelo terno alinhado, os cabelos em dia, o pescoço perfumado, se não haverá nenhum sussurro que desperte a fragilidade masculina do outro lado.

Uma mulher não se interessa em receber flores sem raízes nos dedos.

Uma mulher não se interessa por um homem convicto, que a convida para sair, que passa uma cantada impecável e finge delicadeza para ser indelicado no dia seguinte e não telefonar.

Uma mulher não se interessa por um homem que não mudará a ordem das palavras que teve sucesso com as mulheres anteriores e repetirá as mesmíssimas vaidades da conquista. Uma mulher se interessa por um homem que confunde o desejo com a loucura e tropeça nas palavras para logo descer ao chão com ela.

Uma mulher não se interessa por um homem que seduz como quem dá as cartas, um homem que solicita a conta como quem fecha um negócio, que a envolve como se fosse um investimento. Uma mulher não se interessa por um homem que não tenha também músculo nas pálpebras para chorar por ela, músculos na boca para guardar sua língua.

Uma mulher não se interessa por homens prontos, fechados, absolutamente perfeitos.

Não se interessa por cadáveres.

Por: Fabrício Carpinejar
http://www.fabriciocarpinejar.blogger.com.br

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Odeio e Detesto...

Motorista de ônibus apressadinho e mal educado:
- aqueles que arrancam como se estivessem num Grand Prix,
- aqueles que não param nos pontos para os passageiros subirem ou descerem,
- aqueles que freiam secamente fazendo com que os passageiros sejam atirados para todos os lados, causando-lhes machucados, mal estar e incomodo.
Passageiros folgados:
- homens que se sentam com as pernas abertas e esparramados ocupando quase dois acentos,
- mulheres que carregam todo tipo de sacolas e bolsas e quando ao passarem pelo corredor carregando tudo pela frente e este tudo, geralmente, somos nós.
- criancinhas que ficam berrando e chorando
- aquelas pessoas que estacionam tranquilamente com caras de "tou nem aí" nas portas atrapalhando outras pessoas que precisam descer,
- velhinhas e velhinhos que saem a passear utilizando quase todos os bancos vagos e os coitados dos trabalhadores que se virem e vão em pé,
- pessoas suadas e fedidas e as que soltam cheiros inoportunos e desagradáveis.
Motoristas espertinhos:
- aqueles que se acham no direito de não parar no farol para pedestre,
- aqueles que buzinam quando você está correto ao atravessar na faixa e quando o farol lhe permite a travessia,
- motoqueiros parados que buzinam e aceleram quando você está atravessando a rua.
- motoristas de todas as espécies que fecham a passagem dos pedestres, ou sejam, resolvem parar na faixa destinada aos pedestres.
Ciclistas que não se resolvem:
- vou na contra-mão atrapalhando os motoristas?
- vou na calçada atrapalhando as pessoas?
- vou no meio da rua atrapalhando, atrapalhando todo mundo, afinal eu pago IPVA (essa é boa!)
Gente grosseira que:
- fura fila,
- joga papéis, latas, garrafas e etc nas vias públicas e calçadas emporcalhando tudo ao redor,
- sugismundos que sujam os banheiros públicos no trabalho, restaurantes, shoppings,
- fuma feito chaminé perto de nós deixando tudo contaminado com aquele cheiro de azedo,
- bebe feito uma draga exalando aquele cheiro também azedo e falando coisas sem sentidos e que não se consegue entender,
- é desorganizada e bangunceira,
- sem ética,
- aproveitadora que ama a Lei de Gérson e quer levar vantagem em tudo...

domingo, 20 de julho de 2008

CANÇÃO DO AMOR SERENO


Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua , e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.


Lya Luft

Guardei-me para ti.

Guardei-me para ti como um segredo
Que eu mesma não desvendei:
Há notas nesta guitarra que não toquei,
Há praias na minha ilha que nem andei.

É preciso que me tomes, além do riso e do olhar,
Naquilo que não conheço e adivinhei;
É preciso que me ensines a canção do que serei
E me cries com teu gesto
Que nem sonhei.


Lya Luft

Hipocrisia


Yahia, filho de Iskandar, nos faz o seguinte relato:
“Eu passava minhas noites na casa do Sufi Anwar Ali Jan. Os presentes que lhe davam os visitantes, serviam para comprar a comida que ele oferecia cada noite à seus convidados antes do momento da meditação.
Ele não permitia a ninguém de se aproximar dele; se sentava em um canto, e sua mão ia de sua cuia à boca. Numerosos visitantes observavam: “Este homem é arrogante e carece de humildade, pois se senta separado de seus convidados.”
Cada noite eu me aproximava um pouco mais dele e logo pude ver que, embora ele fizesse todos os gestos de quem levava comida à boca, ele não tinha nada em sua cuia.
Por fim não pude refrear minha curiosidade e lhe disse:
“Qual é a razão de teu estranho comportamento? Porque tu fazes de conta que comes e deixas as pessoas pretenderem que tu és arrogante enquanto que em realidade tu és modesto e frugal e não quer nem perturbar nem lhes causar vergonha, ó tu o mais excelente dos homens?”
Ele respondeu:
- É melhor que eles pensem que eu careço de modéstia, pelas aparências, do que me acharem virtuoso, se fiando somente às aparências. Não há pecado maior que atribuir mérito sobre as aparências. Agir desta forma, é insultar a presença da virtude interior e real, imaginando que ela não existe para ser percebida. Os homens de exterior julgam pelo exterior, mas pelo menos eles não contaminam o interior”.

Do livro "O Buscador da Verdade" de Idries Shah
Enviado pela amiga Vitoria por e-mail

O QUE É - SIMPATIA




Simpatia - é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.


Simpatia - são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.


São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.


Simpatia - meu anjinho,
É o canto do passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'Agôsto,
É o que m'inspira teu rosto...
- Simpatia - é - quase amor!

Casimiro de Abreu


Lindo poema enviado pela amiga Vitória

Canção da Minha Ternura



Rondaste o meu castelo solitário
como um rio de vozes e de gestos;
baixei as minhas pontes fatigadas
e conheci teus lumes, teus agrados
teus olhos de ouro negro que confundem;
andei na tua voz como num rio
de fogo e mel e raros peixes belos,
cheguei na tua ilha e atrás da porta
me deste o banquete dos ardores
teus.

Mas às vezes sou quem volta
a erguer as pontes e cavar o fosso
e agora em sua torre, ternamente,
sem mágoa se debruça nas varandas
vendo-te ao longe , barco nessas águas,
querendo ainda estar se regressares
-porque seria pena naufragarmos
se poderias ter, sem tantas dores,
viagens e chegadas nos amores
meus.

Lya Luft
Secreta Mirada
Fragmentos do Livro -2 ...
Foto Alexey Naumov

Secreta Mirada

Fragmentos do Livro - 1... Páginas: 191 à 193.


A extensão da ternura vai ser posta à prova no momento de uma separação ou quando se transforma o tácito acordo: “meus espaço, minha liberdade, minha vida, meu destino, meu desejo”, contrapõem-se como dois guerreiros de armadura e tudo, prontos para o embate. Com dor, com fervor, com afeto, com todo o espectro de sentimentos vários e ambíguos que nos constituem, estamos expostos, abertos, e frágeis.

Amar sem querer perder é para os santos, não é coisa para a gente, nós que nos preparamos tanto, nós que nos entregamos tanto, nós que tanto ardemos e cantamos e voamos e nos despimos do egoísmo e controlamos a impaciência, e fomos devotados... e aparentemente tudo começa a se esboroar.

Os desejos de um podem não combinar com os de outro: quem amamos não conseguiu sentir-se bem em nossa roupagem de rei e rainha, não entendeu que conosco seria um deus, ou simplesmente sentiu-se ameaçado pelo peso desse nosso amor.

A intransponível solidão retorna, já nos acena, velha amiga que talvez tenhamos de apreciar melhor. Vamos, mais uma vez, para o seu abraço – do qual realmente nunca saímos.

Abrimos a mão para que, bela ave-do-paraíso, a coisa amada saia a buscar sua maior felicidade ou seu contentamento. Isso dói, mas ode ser feito com verdade. Protestamos, choramos, mas a gente consegue. Um pedaço de mim se vai com quem se fundira comigo e agora quer-se desprender: eu erro, me atrapalho, reclamo, mas, se quero o bem do outro, acabo cedendo e, para fazer honra a esse amor, me recomponho, e recomeço, inteira.

Lya Luft

Secreta Mirada1

"Das coisas boas e belas que acabaram, nos vêm sempre uma luz e uma capacidade de ver o mais banal com algum encantamento.Esta é a SECRETA MIRADA que todo mundo pode ter ,mas que o acúmulo de compromissos, a exigência de sermos cada vez mais competentes, talvez nos roube um pouco. "
Lya Luft in: Secreta Mirada

Com esse secreto olhar vindo à tona, a vida é possível, é luz, mesmo em meio à escuridão.

Este texto da Lya Luft me foi "presenteado" pela amiga Sandra por e-mail

Perdas e ganhos






(...) Autoconhecimento, um dos objetivos da terapia, apura a visão e leva a entender melhor, a conviver com feridas, a sobrenadar mesmo quando a onda é forte e feia. Sentir-se valorizado por alguém, amigo, amor, por um grupo, pode ser definitivo. Mas nem tudo se resolve assim.

Algo elementar pode ter sido mais deletério do que podíamos suportar. Feridos de morte no início, passaremos o tempo espreitando para os lados: quem agora vai me ferir, de onde virá o próximo golpe, a próxima traição? Crescendo, amadurecendo e envelhecendo: com que olhar nos contemplamos? Paramos eventualmente para olhar e questionar?

Nossa maneira de ver e viver reflete - e repete - aquela com que fomos vistos quando éramos somente reflexo no espelho, ou vamos formando uma postura própria com todo esforço e dor que isso possa exigir? Sendo contraditórios, somamos hesitação e medo com audácia e fervor. Podemos nos esconder no quarto escuro ou virar a cara para o sol, alternar as duas posturas, gastar e consumir, amealhar e multiplicar. Somos tudo isso, nossa anistia ou nossa aniquilação.

Não é só culpa dos outros se ficamos truncados. Em cada estágio podemos colocar algum traço, algum ponto, alguma cor no projeto de quem pretendemos ser. Podemos ser obrigados a usar disfarces, mas no centro de nós mesmos ressoa o nome que nos dermos: a nossa chancela."

Lya Luft - Perdas e Ganhos, Record 3ª ed. 2003.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

“Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar
dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e, de outro, esquecimento.”

(Cecília Meireles)

sábado, 12 de julho de 2008

DICIONÁRIO CONDENSADO DE FILOSOFIA

A
Absoluto - realidade última, concebida como um princípio único, que abrange tudo.
Alguns pensadores identificaram-no com Deus; outros não acreditaram nisso. O filósofo mais intimamente associado à idéia é Hegel.
Acidente - O que acontece a alguma coisa, sem constituir elemento essencial o usem derivar de sua natureza essencial, é o acidente, o acidental. Aristóteles definiu-o como "algo" que - apesar de não ser definição, nem propriedade nem gênero - pertence à coisa; algo que pode ou não pertencer à mesma coisa - como, por exemplo , a postura "estar sentado" pode pertencer ou não a um mesmo ser em concreto.
Aforismos - são frases que expressam, de maneira condensada uma idéia, um fato ou uma regra. Há filósofos que utilizaram muito essa forma de escrever; atualmente, os aforismos continuam sendo usados por alguns pensadores, como os filósofos da linguagem.
Agente - O eu que faz, enquanto destino do eu que conhece; o eu que decide, escolhe ou age.
Agnóstico - Que não acredita nem desacredita, mas suspende o julgamento.
Analítica (filosofia) - Uma visão da filosofia que tem sua meta no esclarecimento - por exemplo, o esclarecimento dos conceitos, proposições, métodos e teorias pela cuidadosa triagem dos mesmos.
Analogia - É, em termos muito gerais, a correlação entre os termos de dois ou váriossistemas ou ordens, ou seja, a existência de uma relação entre cada um dos termos de um sistema e cada um dos termos de outro.
Antinomia - Conclusões contraditórias derivadas de premissas igualmente boas.
Antropomorfismo - A atribuição das características humanas a algo não humano, por exemplo, o clima ou Deus.
A priori - Algo que se sabe ser válido antes de experimentado. O oposto é a posteriori, que é algo cuja validade só pode ser determinada pela experiência.
C
Categoria - Uma de nossas concepções básicas. As categorias são das classes mais amplas em que as coisas podem ser divididas. Aristóteles e Kant tentaram oferecer uma lista completa delas.
Ceticismo - A opinião de que é impossível saber/conhecer qualquer coisa com certeza.
Cognição - Qualquer tipo de saber ou percepção.
Conceito - Um pensamento ou idéia; o significado de uma palavra ou termo.
Contingente - Pode ou não pode ser o caso, as coisas podem ser de ambos os modos. O oposto é necessário.
Corroboração - Evidência que dá apoio a uma conclusão sem necessariamente prová-la
Cosmologia - Estudo de todo o Universo, do cosmo.
D
Determinismo - A opinião de que nada pode acontecer senão o que acontece, porque todo evento é o resultado necessário das causas que o precedem.
Dialética - habilidade de perguntar ou argumentar; termo técnico usado pelos seguidores de Hegel ou Marx para a idéia de que toda asserção provoca oposição, e ambas se reconciliam então numa síntese que inclui elementos de ambas.
Dualismo - visão de alguma coisa como composta de dois elementos irredutíveis.
E
Empirismo - A visão de que todo conhecimento de que qualquer coisa que realmente exista deve ser derivado da experiência.
Epistemologia - Teoria do conhecimento; ramo da filosofia que se preocupa com o tipo da coisa que podemos conhecer, e como, e, e o que é o conhecimento.
Essência - A essência de uma coisa é o que se faz ser o que é distintivo a seu respeito.
Estética -Filosofia da arte. Também questões filosóficas sobre a beleza.
Ética - Reflexão filosófica sobre como devemos viver, portanto sobre questões de certo e errado, bom e mau, direito e deveres, e outros conceitos semelhantes.
Existencialismo - Uma filosofia que começa com a existência contingente do ser humano individual e considera-a como o enigma primeiro. F Falácia - Um argumento seriamente errado, ou uma falsa conclusão baseada em tal argumento.
Fenômeno - Uma experiência que é imediatamente presente.
Fenomenologia - Uma abordagem filosófica que investiga os objetos da experiência sem levantar o que poderiam ser questões irrespondíveis sobre a natureza independente.
Filosofia - literalmente, "amor da sabedoria". O termo é amplamente usado para qualquer reflexão racional consistente acerca de princípios gerais que tem o objetivo de obter um entendimento mais profundo das coisas. A filosofia como disciplina pedagógica oferece treinamento na análise e esclarecimento rigorosos de teorias, métodos, argumentos e enunciados de todo o tipo, e dos conceitos de que fazem uso.
H
Humanismo - Abordagem filosófica baseada na suposição de que o gênero humano é a coisa mais importante que existe e de que não pode haver conhecimento nenhum do mundo sobrenatural, se é que tal mundo existe.
I
Idealismo - Visão de que a realidade consiste de algo não-material, seja mente, seja espíritos.
L
Linguagem (filosofia da) - Também conhecida como análise da linguagem. Visão de que os problemas filosóficos surgem de um uso confuso da língua e devem ser resolvidos, por uma análise cuidadosa a língua/linguagem em que foram expressos.
Lógica - Ramo da filosofia que faz um estudo do próprio argumento racional.
M
Materialismo - Doutrina de que toda existência real é algo material. Metafísica - Ramo da filosofia que se ocupa da natureza última do que existe. Ela questiona o mundo natural "de fora", por assim dizer, e suas questões, portanto, não podem ser abordadas pelos métodos da ciência.
Monismo - Visão de alguma coisa como formada por um elemento simples.
Mundo - Significa toda a realidade empírica, portanto, pode também ser equivalente à totalidade da experiência real e possível.
N
Naturalismo - Visão de que a realidade é explicável sem referência a nada fora do mundo natural.
Nûmeno - A realidade incognoscível por trás daquilo que se apresenta à consciência humana, sendo este último conhecido como fenômeno.
O
Ontologia - Ramo da filosofia que pergunta o que realmente existe, enquanto distinto da natureza de nosso conhecimento a respeito.
P
Pragmatismo - Teoria da verdade. Sustenta que uma proposição é verdadeira se cumprir todas as tarefas exigidas dela, isto é, se descrever apuradamente uma situação, levar-nos a antecipar corretamente as experiências, encaixar-se em proposições já bem testadas.
Premissa - Ponto de partida de um argumento. Qualquer argumento tem de partir pelo menos de uma premissa.
R
Racionalismo - Visão de que podemos obter conhecimento do mundo pelo uso da razão, sem recorrer à percepção dos sentidos.
Refutabilidade - Propriedade de uma propriedade ou conjunto de proposições, pode ser provada errada pelo teste empírico.
S
Semântica - Estudo dos significados em expressões lingüísticas
Sofista - Alguém cujo objetivo numa discussão não é atingir a verdade, mas vencer a discussão.
Solipsismo - Crença de que só o eu existe.
T
Tautologia - Proposição que é necessariamente verdadeira.
Teleologia - estudo dos fins ou objetivos.
Transcendental - Fora do mundo da experiência sensorial.
U
Universal - Conceito de aplicação geral.
Utilitarismo - Teoria de ética e de política que julga a moralidade das ações por suas consequências, que considera a conseqüência mais desejável como o maior bem para o maior número de pessoas.
V
Validade - Uma propriedade dos argumentos. Um argumento é válido se sua conclusão seguir suas premissas.
Verificabilidade - Propriedade de uma proposição, ou conjunto de proposições, de poder ser provada verdadeira pelo teste empírico.

Bibliografia: MAGEE, Bryan. História da filosofia. Edições Loyola.Mora, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Martins Fontes, SP, 1998. Prof. Esron

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terça-feira, 8 de julho de 2008

Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

Lágrimas ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era q'rida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

O meu impossível

Minh'alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto! E o que mais pesa
É nada ser perfeito. É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão! Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!... Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!...

Florbela Espanca