sábado, 19 de setembro de 2009

B u q u ê d e R o s a s


Eu hoje amanheci sem meu sorriso.
Hoje estou triste sem saber porquê,
E uma saudade intensa de você
Põe-me a ficar assim, de sobreaviso.

Meu caminhar é lento, é indeciso
Quando minh'alma busca o que não vê,
E é neste estado que ninguém me lê,
Porque nem eu descubro o que preciso.

A casa é grande e o coração pequeno
Quando ao passado o meu pesar aceno
E sinto os pés em áreas pedregosas.

Quem colocou o fim fora de hora
Naquele amor que doce foi outrora,
Que feneceu como um buquê de rosas?

Silvia Schmidt

Hei de morrer em ti


Hei de morrer em ti, nesse teu corpo estranho
Num espanto feroz, feito de febre e fúria ,
Feliz pelo que tive, amante enquanto dure
A alta fonte do amor e seu limpo rebanho.

A tua alma assassina assistirá, contente,
A um sonho agonizante e por si só perdido
E, sonho do meu sonho, esse fim terá sido
Nada de verdadeiro, o falso de quem sente.

Morrerei nos teus olhos, morrerei nas memórias
Do teu mundo cabal, cadafalso de histórias ,
Rupturas, padrões , fábulas, ossos, chifres .

Sentirás o meu peso, isso que não sentiste
Senão como um olhar, talvez mau, talvez triste.
Serei por fim em ti, para que me decifres .

Renata Pallottini

domingo, 13 de setembro de 2009

Suspeitas que me quereis

Redondilhas de Luís Vaz de Camões

Trovas a üas suspeitas

Suspeitas, que me quereis?

Que eu vos quero dar lugar,

que, de certas, me mateis,

se a causa de que nasceis

vos quisesse confessar.

Que de não lhe achar desculpa

a grande mágoa passada

me tem a alma tão cansada

que, se me confessa a culpa, tê-la-ei por desculpada.

Ora vede que perigos

têm cercado o coração,

que, no meio da opressão,

a seus próprios inimigos

vai pedir a defensão!

Que, suspeitas, eu bem sei,

como se claro vos visse,

que é certo o que já cuidei;

que nunca mal suspeitei

que certo me não saísse.

Mas queria esta certeza

daquela que me atormenta;

por que em tamanha estreiteza

ver que disso se contenta

é descanso da tristeza.

Porque se esta só verdade

me confessa, limpa e nua

de cautela e falsidade,

não pode a minha vontade

desconformar-se da sua.

Por segredo namorado

é certo estar conhecido

que o mal de ser enjeitado

mais atormenta sabido,

mil vezes, que suspeitado.

Mas eu só, em quem se ordena

novo modo de querela,

de medo da dor pequena,

venho achar na maior pena

o refrigério para ela.

Já nas iras me inflamei,

nas vinganças, nos furores

que já, doudo, imaginei;

e já mais doudo o jurei

de arrancar d'alma os amores.

Já determinei mudar-me

pra outra parte com ira;

depois vim a concertar-me que

era bom certificar-me

no que mostrava a mentira.

Mas depois já de cansadas

as fúrias do imaginar,

vinha enfim a arrebentar

em lágrimas magoadas

e bem para magoar.

E deixando-se vencer

os meus fingidos enganos,

de tão claros desenganos

não posso menos fazer

que contentar-me cos danos.

E pedir que me tirassem

este mal de suspeitar

que me vejo atormentar,

ainda que me confessassem

quanto me pode matar.

Olhai bem se me trazeis,

Senhora, posto no fim;

pois neste estado a que vim,

para que vós confesseis

se dão os tratos a mim.

Mas para que tudo possa

Amor, que tudo encaminha,

tal justiça lhe convinha;

porque da culpa que é vossa

venha a ser a morte minha.

Justiça tão mal olhada,

olhai com que-cor se doura,

que quer, no fim da jornada,

que vós sejais confessada

para que eu seja o que moura!

Pois confessai-vos já' gora,

inda que tenho temor

que nem nest' última hora

me há-de perdoar Amor

vossos pecados, Senhora.

E assi vou desesperado,

porque estes são os costumes

de amor que é mal empregado,

do qual vou já condenado

ao inferno, de ciúmes!

Não te Amo


Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garret - Folhas Caídas
I

Meu bergantim, onde vens,
que te não posso avistar?
Bergantim! Meu bergantim!
Quero partir, Poemas que eu escrevi na areia ao mar...

Tenho pressa! Tenho pressa!
Já vejo abutres voando
além, por cima de mim...
Tenho medo... Tenho medo
de não me chegar ao fim.

Meus braços estão torcidos.
Minha boca foi rasgada.
Mas os olhos, estão bem vivos,
e esperam, presos ao Céu...

Que haverá p'ra além da noite?
p'ra além da noite de breu?

Ah! Bergantim, como tardas...
Não vês meu corpo jazendo
na praia, do mar esquecido?...
Esse mar que eu quis viver,
e sacudir e beijar,
sem ondas mansas, cobrindo-o...

Quem dera viesses já...
que vai ficando bem tarde!
E eu não me quero acabar,
sem ver o que há para além
deste grande, imenso céu
e desta noite de breu...

Não quero morrer serena
em cada hora que passa
sem conseguir avistar-te...
Com meu olhar enxergando
apenas a noite escura,
e as aves negras, voando...

II

Meu bergantim foi-se ao mar...
Foi-se ao mar e não voltou,
que numa praia distante,
meu bergantim se afundou...

Meu bergantim foi-se ao mar!
levava beijos nas velas,
e nas arcas, ilusões,
que só a mim me ofereci...

Levava à popa, esculpido,
o perfil, leve e discreto,
daqueles que um dia perdi.

Levava mastros pintados,
bandeiras de todo o mundo,
e soldadinhos de chumbo
na coberta, perfilados.

Foi-se ao mar meu bergantim,
Foi-se ao mar... nunca voltou!

E por sete luas cheias
No areal se chorou...

Alda Lara

sábado, 12 de setembro de 2009

Milho de Pipoca


A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser quem devem ser.

O milho da pipoca não é o que deve ser.

Ele dever ser aquilo que acontece depois do estouro.

O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.

Pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca para sempre.

Assim acontece com a gente.

As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas.

Só que elas não percebem.

Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos.

Dor.

Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o Pai , ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.

Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão - sofrimentos cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio.

Apagar o fogo.

Sem fogo o sofrimento diminui.

E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.

Dentro de sua casca dura, fechada em si mesmo.

Ela não pode imaginar destino diferente.

Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: PUM! - e ela aparece como uma outra coisa completamente diferente que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom mas ainda temos o piruá que é o milho de pipoca que se recusa estourar.

São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar.

Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

A sua presunção e o medo são a dura casca de milho que não estoura.

O destino delas é triste.

Ficarão duras a vida inteira.

Não vão se transformar na flor branca e macia.

Não vão dar alegria para ninguém.

Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada.

Seu destino é o lixo...

Do livro "O Amor que acende a lua" Editora Papiros

Escreve-me

Escreve-me! Ainda que seja só
uma palavra, uma palavra apenas,
suave como o teu nome e casta
como um perfume casto d'açucenas!

Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
eu te não vejo, amor! Meu coração
morreu já, e no mundo aos pobres mortos
ninguém nega uma frase d'oração!

"Amo-te!" cinco letras pequeninas,
folhas leves e tenras de boninas,
um poema d'amor e felicidade!

Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então...brandas...serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...

Florbela Espanca

Eu estou pedindo... "escreve-me".

Das Utopias

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana - Espelho Mágico

Os Degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Mario Quintana - Baú de Espantos

TRADUZIR-SE


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar


Já há algum tempo que venho pensando e querendo gentileza.
Como tenho sentido falta de gentileza!
Aquela que chamo de gentileza urbana:
ceder o acento para uma pessoa mais idosa, mais cansada;
abrir a porta, seja do carro, do elevador, de casa, do bar;
ajudar com a bagagem, com as compras;
olhar nos olhos e dizer: bom dia, tenha uma boa tarde, por favor,
obrigada, seja bem vindo, volte sempre;
sorrir; ouvir; deixar passar; ceder a vez; oferecer..
Oferecer encanto, cortesia, graça.
Oferecer um beijo, um minuto de atenção...
Ultimamente, as pessoas têm se colocado tão sem tempo,
que esquecem de ser gente.
Esquecem que ser gente é ser carne, osso, alma e sentimento,
tudo isso ao mesmo tempo”

Adriana Falcão
Escreverás meu nome com todas as letras
Com todas as datas, e não serei eu
Repetirás o que me ouviste, o que leste de mim
E mostraras meu retrato, e nada disso serei eu
Dirás coisas imaginárias, invenções sutis
Engenhosas teorias, e continuarei ausente
Somos uma difícil unidade
De muitos instantes mínimos, isso serei eu

Cecília Meireles

Gosto tanto de você


Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer
Eu acho tão bonito
Isso de ser abstrato, baby
A beleza é mesmo tão fugaz
É uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer
Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma ideia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer
Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
(eu vou sobreviver)
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Lulu Santos

Nasci como quem não podia, não devia ou não estaria.
Rompi todos invólucros e me libertei.
Sou mulher e posso ser rocha, metal, seda,
ternura, ou ira, depende do momento.
Sou reverso, estou nas trevas quando me convém,
mas posso brilhar nesta escuridão.
Não me castro, sempre me dispo de seitas que me ofuscam,
tenho luz própria e a nada me oponho.
Sou gozos quando oportunos me são,
sinais normais escorrem de mim, só meus.
Posso ser instinto, ninfa perfeita, feiticeira,
prostituta, mãe, amiga, namorada, menina,
mas essencialmente mulher, pele, cabelos, boca, seios,
clitóris, libido, prazeres que não divido.
Posso me dar inteira,
insaciável e percorrer anatomias que não sejam minhas,
fazer escravos, ser abelha rainha.
Não, não me façam deusa, nem costela de adão,
minha maior magia é ser sempre e somente mulher.

Cida Souza

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

13 Linhas Para Viver

1. Gosto de você não por quem você é, mas por quem sou quando estou contigo.

2. Ninguém merece tuas lágrimas, e quem as merece não te fará chorar.

3. Só porque alguém não te ama como você quer, não significa que este alguém não te ame com todo o seu ser.

4. Um verdadeiro amigo é quem te pega pela mão e te toca o coração.

5. A pior forma de sentir falta de alguém é estar sentado a seu lado e saber que nunca vai poder tê-lo.

6. Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso.

7. Pode ser que você seja somente uma pessoa para o mundo, mas para uma pessoa você seja o mundo.

8. Não passe o tempo com alguém que não esteja disposto a passar o tempo contigo.

9. Quem sabe Deus queira que você conheça muita gente errada antes que conheças a pessoa certa, para que quando afinal conheça esta pessoa saibas estar agradecido.

10. Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.

11. Sempre haverá gente que te machuque, assim que o que você tem que fazer é seguir confiando e só ser mais cuidadoso em quem você confia duas vezes.

12. Converta-se em uma pessoa melhor e tenha certeza de saber quem você é antes de conhecer alguém e esperar que essa pessoa saiba quem você é.

13. Não se esforce tanto, as melhores coisas acontecem quando menos esperamos.

Gabriel García Marquez

Gabriel Chalita

"Está se sentindo vazio?Preencha esse espaço com solidariedade.Saia desse buraco.Há muita gente precisando de você."

"Ter coragem é, sobretudo, ter certeza de que a fascinante aventura da vida não perderá os seus mais atrevidos e sedutores momentos".

"Sua crise de histeria diante do erro alheio não vai resolver o problema. Acalme-se primeiro, pense, e depois decida com convicção."