sábado, 3 de abril de 2010

Por Decoro



Quando me esperas, palpitando amores,
E os grossos lábios úmidos me estendes,

E do teu corpo cálido desprendes

Desconhecido olor de estranhas flores;


Quando, toda suspiros e fervores,
Nesta prisão de músculos te prendes,

E aos meus beijos de sátiro te rendes,

Furtando as rosas as púrpureas cores;


Os olhos teus, inexpressivamente,
Entrefechados, lânguidos, tranquilos,

Olham, meu doce amor, de tal maneira,

Que, se olhassem assim, publicamente,
Deveria, perdoa-me, cobri-los
Uma discreta folha de parreira.

Artur Azevedo

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