sábado, 19 de junho de 2010

Na Ilha por Vezes Habitada


Na ilha por vezes habitada do que somos,
há noites, manhãs e madrugadas em que

não precisamos de morrer.

Então sabemos tudo do que foi e será.

O mundo aparece explicado

definitivamente e entra em nós uma

grande serenidade, e dizem-se as palavras
que a significam.
Levantamos um punhado de terra
e
apertamo-la nas mãos. Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:

o contorno, vontade e os limites.

Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se
reconhece e viajou à roda do mundo
infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.

Libertemos devagar a terra onde

acontecem milagres como a água, a pedra

e a raiz.

Cada um de nós é por enquanto a vida.

Isso nos baste.


José Saramago

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