domingo, 20 de março de 2011

Metade


Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.

Q
ue a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que falo não sejam ouvidas
como prece e nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas como a única coisa que
resta a um homem inundado de sentimento

Porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo.

Q
ue essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
E que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
e a outra metade um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste e que o convívio
comigo mesmo se torne ao menos suportável

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é a canção.


E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

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