domingo, 19 de outubro de 2008

As Três Faces da Lua


A Lua tem três faces, mas permanece uma só.
Como ela, toda mulher é uma deusa, tendo três faces
Interligadas, entrelaçadas – permanecendo uma só
Na imensidão incompreensível que há fora do tempo
No interior insondável que é o seu ser feminino
Insondável, incompreensível, incomensurável.
Nesse seu ser ela é a Lua: criança, mãe e mulher.
A Lua Crescente é a criança que sempre será
Aquela que brinca e troça, faz ironia e se esquece
Ri e chora sem sentido, contradiz-se, entesa, cresce...
A Lua Cheia é a mãe e amante, a que ampara e conforta
A que ama seu homem, expectante, recebe e acalanta.
A mãe que amima o que parece fraco e indefeso
Cuidando tudo o que germina, cresce, floresce.
A Lua Minguante é a anciã, a mulher sábia e ponderada
Aquela que busca o conhecimento nos astros, nas estações
E nos segredos dos corações dos homens.
E toma a tudo e todos com cautela.
Depois dela, é a Não-Lua. A ira, a morte, a escuridão.
A Lua Nova que desaparece, que fere, que mata.
Esta é a Não-Face que a Lua esconde
A que fere até o homem que ama
E depois se esquece, se arrepende
E torna a ser criança outra vez.
Porque a Lua tem três faces, mas permanece uma só.

Assim como a Lua, eu sou mulher, tenho três faces.
Meu ser Crescente ri, brinca contigo e faz troça
Te entesa, te irrita e depois chora, buscando teu carinho
E compreensão. A que levanta olhos expectantes
Confiantes no teu ser muro e espada, poder e força.
Meu ser Lua Cheia é aquela que te ama e recebe confiante
Meu corpo amado e amante, criando e destilando a vida
Que do meu corpo jorra, fruto do teu amor.
Sou Lua Minguante, e minha mente busca as estrelas.
Falo de conhecimento, discuto filosofia com os sábios
Folheio alfarrábios e textos herméticos, ocultos, esquecidos.
Aconselho, pondero, meço justiça, recebo e acalanto.
Mas há em mim também a Não-Lua, a escura dança
Em que escondo a ira, o veneno, a vingança.
Sou mulher, sou Lua – três faces em uma só.
Três modos de perceber a vida, três modos insondáveis
Inexplicáveis, incomensuráveis
Meus três modos de te amar.



© Dalva Agne Lynch

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