domingo, 3 de outubro de 2010

Falando com o Coração


O amor maduro não é menor
em intensidade
Ele é apenas silencioso
Não é menor em extensão
É mais definido, colorido e
poetizado


Não carece de demonstrações;
presenteia com a verdade do
sentimento


Não precisa de presenças
exigidas
Amplia-se com as ausências
significantes


O amor maduro tem e quer
problemas, sim como tudo,
Mas vive dos problemas da
felicidade.
Problemas da felicidade são
formas trabalhosas de
construir o bem e o prazer
Problemas da infelicidade
não interessam ao amor
maduro


Na felicidade está o encontro
de peles, o ficar com gosto
da boca e do cheiro, está a
compreensão antecipada, a
adivinhação, o presente de
valor interior, a emoção vivida
em conjunto, os discursos
silenciosos da percepção, o
prazer de conviver, o equilíbrio
de carne e de espírito


O amor maduro é a
valorização do melhor do outro
e a relação com a parte salva
de cada pessoa
Ele vive do que não morreu
mesmo tendo ficado para depois


Vive do que fermentou, criando
dimensões novas para
sentimentos antigos, jardins
abandonados, cheios de
sementes


Ele não pede...tem
Não reivindica...consegue
Não percebe...recebe
Não exige...dá
Não pergunta...adivinha
Existe, para fazer feliz


O amor maduro cresce
na verdade e se esconde a
cada auto-ilusão


Basta-se com o todo do pouco
Não precisa nem quer
nada do muito
Está relacionado com a vida
e sua incompletude, por isso
é pleno em cada ninharia por
ele transformada em paraíso


É feito de compreensão,
música e mistério
É a forma sublime de ser
adulto
E a forma adulta de ser
sublime e criança


É o sol de outono
Nítido mas doce...
Luminoso sem ofuscar...
Suave mas definido...
Discreto mas certo...
Um sol, que aquece até
queimar...

Artur da Távola

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