sábado, 23 de fevereiro de 2008

Balada do Amor que não Veio

Se acaso penso em ti, me inquieta o pensamento...
Por que havias de vir assim tarde demais?
Bem que eu tinha de há muito um cruel pressentimento,
- e há sempre um desespero em nós, se num momento
desejamos voltar a vida para trás...

Neste instante imagino o que teria sido
o meu vago destino desorientado,
se antes, eu já te houvesse um dia conhecido,
e esse tempo, meu Deus!... - e esse tempo perdido
pudesse ao teu convívio ter aproveitado!

Não há nada entre nós, nada... e em verdade há a vida
que nos chama e nos prende!.. . E já agora imagino
que aqui estás ao meu lado a ouvir-me comovida
e me entregas a mão, - e entrego-te vencida
a minha alma, - e com ela todo o meu destino!

Não há nada entre nós, - mas se nos encontramos
ouvirás de hoje em diante um poema onde tu fores,
- trouxemos o destino estranho de dois ramos,
separados, - que importa? ainda assim nos juntamos
confundindo as ramagens, misturando as flores. . .

E eu nem te vi direito! Um olhar sob um véu,
(há qualquer coisa estranha num olhar velado...)
- um olhar, - não direi que em teu olhar há um céu,
quando sei que afinal há tanta angústia e fel
em tudo o que me tens da vida revelado!

Acompanhei-te o vulto um segundo, alguns passos,
nada mais, e no entanto, se quiser pensar
sou capaz de te ver, (há gestos nos espaços,
e guardei a visão dos teus braços, - teus braços
guardei-os, como dois clarões dentro do olhar!)

E devem ser macias tuas mãos, - não ouso
pensar no que elas guardem nos seus finos dedos,
- pensando em tuas mãos, penso em sombra, em repouso,
num lugar quieto e bom, e num vento amoroso
a soprar entre as folhas múrmuros segredos. . .

Mas... que saibas perdoar estas coisas que escrevo,
pensei-as a escutar distante a tua voz,
e há algumas coisas mais, que a dizer não me atrevo,
é que escrevo demais, e não posso, e não devo,
e não tenho o direito de falar em nós ...

JG de Araujo Jorge

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