segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Pessoa Esquisita.

Eu ouço, leio e assisto a Internet ser acusada de separar casais,desagregar famílias, tornar as pessoas reclusas em suas casas.E realmente me espanto quando vejo a "Internet" ser tratada como uma entidade, um ser vivo, com poderes manipuladores, como se as pessoas tivessem perdido a capacidade de pensar por si mesmas e, pior: quem faz uso constante dela é visto como, no mínimo,"esquisito".

Não estou aqui defendendo um equipamento, um canal de comunicação, mas sim o direito de cada um viver como achar melhor, sem ser chamado de "pessoa esquisita" porque usa um computador para o próprio lazer e, muitas vezes,como instrumento de trabalho!
Todos têm o direito de ser tratados como "pessoas normais" !

O que entendo é que a Internet, assim como a televisão o foi na sua época,não modifica o comportamento das pessoas: Ela apenas faz vir à tona situações que já existiam anteriormente.

Um relacionamento não vai mal porque ele ou ela conheceram outra pessoa virtualmente:esse relacionamento, com certeza, já não estava bem. A necessidade do outro procurar alguém que o ouça, alguém que lhe dê carinho,mesmo que virtual, revela isso.

Se somos felizes com quem convivemos, qual a necessidade de procurarmos outra pessoa? A rede, neste caso, apenas facilitou o que invariavelmente aconteceria na vida real.Talvez apenas demorasse mais para acontecer.

Acredito que o maior problema em nossas vidas, como diz a Marina Colassanti em um de seus textos" Eu sei, mas não devia ",é que a gente se acostuma ... A gente se acostuma porque existem os filhos, existe a empresa, a conta bancária, os amigos, os pais ... Desculpas e comodismo não faltam. Faça a sua lista !

E daí , surge a Internet, a grande " vilã ". A culpa é dela ( até "feminina " ela é ! ) e não nossa, que desistimos de nós mesmos,de sermos felizes, dos nossos sonhos.
Ficamos acomodados no dia-a-dia, que não é lá grande coisa, mas dá para ir levando com uma traiçãozinha aqui, outra ali ... ora, é apenas virtual !!!

" - Mesmo porque, eu tenho direito a uma folga depois de uma semana tão
exaustiva !!! "

E a Internet torna-se a culpada de tudo isso ... De fazer com que as pessoas não saiam de casa, curtam barzinhos,boites, papo na esquina, churrasco com os vizinhos, essas coisas bem comuns de " gente normal ".

Será impressão minha, mas o motivo de as pessoas não saírem de casa e levarem uma " vida normal " é resultado da falta de segurança e da violência que antes da Internet já existiam ??? Já não éramos prisioneiros de nossas casas antes disso??? Só que com uma diferença: antes não tínhamos opção além de assistir os plim-plins, ratinhos e silvios.
Hoje temos.

Então acusam um equipamento eletrônico de governar nossas vidas, como se tivéssemos perdido a capacidade de pensar e de saber o que é melhor para nós. Penso que perdemos muitas vezes essa capacidade bem antes, quando acreditamos que a " democracia política " em nosso país, depois da ditadura militar, tornaria o nosso país melhor e mais justo, que seríamos o país do " futuro ".
Aliás, o presente parece nunca chegar! Quando votamos em certas pessoas deixamos que - elas sim - governem a nossa vida e não reagimos.

Não foi a Internet que mudou o comportamento das pessoas, ela apenas tornou-se uma opção para fugirmos, muitas vezes, daqueles problemas que já existiam. Fico triste de ver as pessoas usarem e acusarem a rede para justificar os erros que cometem, ou as suas dificuldades com a vida no dia-a-dia, quando deveriam fazer uma análise de consciência e parar para pensar, para conversar sobre o que está errado, tentar resolver suas vidas, sem usar um computador como fuga e desculpa. E isso não é ser mau-caráter, é apenas ser humano e acomodar-se às situações.
Nós somos assim .... apenas humanos.

Assisti a uma entrevista um dia desses em que alguém dizia que as crianças passam horas em frente ao computador, e que isso é extremamente nocivo à educação delas.
Concordo !

Tudo que é demais, exagero, faz mal. Principalmente, quando se trata de crianças que precisam brincar de roda, pique-esconde, essas coisas da infância. Mas prefiro ver uma criança em frente a um computador, onde ela aprende e interage, do que em frente a uma telinha assistindo a desenhos e filmes, onde o número de mortos em meia hora pode ser muito maior do que os da Guerra do Vietnã.

Esse meio de comunicação maravilhoso existe para que nós cresçamos como pessoas, emocional e intelectualmente; para que façamos, cada dia mais, parte de uma "comunidade mundial", sem barreiras e sem preconceitos. Um mundo onde todos um dia possam não mais ficar com medo de viver a realidade, mas vivê-la plenamente.

Então, por favor, parem de me achar uma pessoa estranha, diferente e entendam que nem todos os que ficam em frente a esta telinha durante horas estão fugindo dos seus problemas, mas apenas acham bem mais interessante esta telinha aqui do que os plim-plins da vida.

E que ela não é a responsável, a vilã da história ou a causadora de desvios ou desagregações. Os responsáveis somos nós quando esquecemos que junto com a capacidade de pensar nos foi dada uma pequenina condição chamada " livre arbítrio ".


(Vilgarte Larsen)

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